Escrevendo esta história estou arriscando, pondo em causa dias do meu futuro. Em nome da escrita, de um prazer solitário. Tenho uma vida para viver mas escuso-me por falta de dinheiro, pois estou independente dos meus pais por um fio. Não traz sucesso esta tarefa, mas é como uma missão, um dever, uma satisfação imediata que nos reconcilia com a alma. As personagens que vou apresentar são meio fictícios, baseiam-se nas minhas observações e em pessoas que conheci. Tarefa árdua esta que nunca pensei tivesse tantos sacrifícios, mas persisto, só, como o cavaleiro de Cervantes, buscando a minha dama, o meu lugar, as palavras certas. Se muitas vezes não o consegui, o trilho ficou marcado para outros. Ao menos essa satisfação terei tido. Tenho experimentado o azedume de minha mãe, que comigo vive mais perto grande parte dos momentos do dia. Meu pai está distante e só vem para as refeições. Não posso estar muito tempo em Riachos, onde escrevo estes últimos capítulos, pois não cabe bem um homem de 32 anos estar ainda em casa dos pais. O que me resta é deixar escrito tudo o que sou e fiz e partir para uma outra vida.
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